Compreendendo o Processo Ministerial da nossa comunidade
Quando Jesus saiu de Nazaré para expandir o reino de Deus entre os homens ele não tinha a menor ideia de que seus futuros seguidores substituiriam a convivência e o discipulado por uma série de regras, sistemas doutrinários complexos ou reuniões semanais que muitas vezes são destituídas de relacionamentos interpessoais.
Jesus saiu de Nazaré para procurar gente. Ele gostava de estar com as pessoas, conversar, festejar, ensinar, interceder, se alegrar e sofrer com elas. Ele foi ao encontro de João Batista. Seu primeiro milagre foi em um casamento. Jesus costumava visitar e se hospedar na casa dos seus amigos. E ele tinha certeza de que a forma mais eficiente de aprendizado estava diretamente relacionada a convivência.
Dizem que retemos somente 10% daquilo que apenas ouvimos e 65% do que observamos e aplicamos. Isso significa que geralmente erramos quando limitamos nosso aprendizado a 1h de sermão. Ser discípulo é muito mais que isso. É mais que frequentar a Escola Dominical, pequenos grupos ou células, participar dos cultos, pertencer as sociedades internas ou ouvir sermões. Significa estar disposto a caminhar com Jesus e diariamente compartilhar a vida com o próximo – dentro e fora da igreja.
O problema é que com o passar dos anos desaprendemos tal significado, esquecemos o que é “discipular” e nos escondemos no mero ativismo eclesiástico. Nossa tarefa enquanto comunidade chamada pelo Mestre é observar como a caminhada com Jesus pode ser transformadora, isso se reconhecermos que ainda somos aprendizes, independentemente do tempo que frequentamos uma comunidade eclesiástica.
A atitude dos primeiros discípulos no século I d. C. colocou muitas outras pessoas em contato direto com Jesus. Esses discípulos não apenas demonstraram interesse em serem seguidores, mas, também, em compartilharem suas vidas com o Mestre e, principalmente, com o próximo.
Entretanto, como acontece conosco, os resultados desse encontro com Jesus foram superficiais, não geraram mudança imediata. Aliás, estamos longe de apresentar uma mudança imediata através dos nossos encontros com o Mestre. Somos resistentes, senhores da vida, controladores de percurso, às vezes, também somos soberbos, egoístas, egocêntricos, hedonistas, materialistas, consumistas e impiedosos, como os demais seres humanos. Ainda assim, Jesus nos chama para caminhar diariamente com Ele. Pois, o primeiro encontro pode até ser confrontador, mas, transformadora mesmo é a caminhada.
Discipulado é ajustamento para longo prazo. Uma longa caminhada na mesma direção, cheia de idas e vindas, incertezas, graça, amor, companheirismo e misericórdia.
O processo ministerial da nossa comunidade se fundamenta nesses princípios. Acreditamos em uma vida de cruz, ou seja, diariamente nos deparamos com as palavras de Jesus, registradas no Evangelho de Lucas 9.23-25:
23 Depois disse a todos:
— Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. 24 Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira. 25 O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?
Não é fácil entrar pela porta estreita e trilhar o caminho apertado sozinho. Aliás, essa nunca foi a proposta de Jesus. Precisamos uns dos outros, como bem observa o sábio no Livro de Eclesiastes 4.9-12:
9 É melhor haver dois do que um, porque duas pessoas trabalhando juntas podem ganhar muito mais. 10 Se uma delas cai, a outra a ajuda a se levantar. Mas, se alguém está sozinho e cai, fica em má situação porque não tem ninguém que o ajude a se levantar. 11 Se faz frio, dois podem dormir juntos e se esquentar; mas um sozinho, como é que vai se esquentar? 12 Dois homens podem resistir a um ataque que derrotaria um deles se estivesse sozinho. Uma corda de três cordões é difícil de arrebentar.
A prática do discipulado nos ajuda a reorientar nossa atitude diária a partir do Evangelho e nos conduz gradativamente a vida centrada em Cristo, como é o fim da nossa proposta ministerial. Para tal, disponibilizamos encontros quinzenais com discipuladores que acompanham pessoalmente o desenvolvimento de cada discípulo em quatro áreas relacionais:
- Relacionamento profundo com Deus;
- Relacionamento autêntico consigo mesmo;
- Relacionamento litúrgico com a comunidade missional;
- Relacionamento intencional com a sociedade.
Geralmente, a duração do período de discipulado é de 12 meses. Nesse período se busca uma espiritualidade emocionalmente saudável, uma teologia aplicável ao cotidiano e um desenvolvimento integral do discípulo, fortalecendo assim a sua atuação como indivíduo no âmbito familiar e social.
A finalidade do discipulado também é formar discipuladores, pois, todo discípulo é um discipulador em potencial. Após o período de 12 meses, o discípulo entrará em um processo de mentoria, no qual continuará sendo acompanhado, mas os encontros pessoais serão mais esporádicos ou de acordo com a necessidade dele.
Todo discípulo deve participar também do Curso de Formação Espiritual. Assim, ele terá contato com outras pessoas que estão passando pelo mesmo processo de reorientação e terá oportunidade de compartilhar suas experiências, sejam elas consideradas por ele positivas ou negativas.